sexta-feira, 30 de maio de 2014

HORA LEGAL E CONVERSÃO DE ARCO EM TEMPO

Depois que postei o texto COMO USAR O ALMANAQUE NÁUTICO - parte 2 o amigo comandante Wilson me sugeriu o tema que é o título desse post. E é mesmo um tópico bem interessante de ser estudado devido à sua importância na Navegação Astronômica. No Almanaque náutico temos nas páginas diárias, além das informações das coordenadas horárias dos astros para as horas inteiras, várias outras informações, entre elas a hora média local dos instantes do nascer e por do Sol e da Lua, da passagem meridiana do Sol, etc.
Para sabermos em que hora legal tal fenômeno (nascer ou por do Sol, por exemplo) ocorrerá, deveremos transformar a hora média local (HML) em hora média de Greenwich (HMG), e depois converter para a Hora Legal, de acordo com o fuso do local.
E a conversão de arco em tempo, pra que serve? É usada justamente no momento em que iremos calcular a HMG. Para este cálculo convertemos a longitude do lugar em tempo e somamos ou subtraímos da HML, conforme estejamos numa longitude oeste ou leste respectivamente.
Vamos a um exemplo prático:
Ao abrirmos o Almanaque Náutico Brasileiro na página 111, onde temos os dados para as datas de 28,29 e 30 de maio de 2014, observemos a coluna do SOL NASCER, e vamos verificar que para a latitude 10º sul a hora média local para o nascer do Sol é 06:10. Supondo que estivéssemos localizados sobre o meridiano de Greenwich, ou seja, longitude igual a 0º, qual seria a hora legal do nascer do Sol nesse local?
Como disse, primeiro temos que converter a longitude em tempo para encontrarmos a HMG do nascer do Sol, e depois com o valor do fuso juntamente com a HMG calcularemos a hora legal. Observe que para esse caso, nossa longitude é zero grau, então não temos o que converter de arco em tempo. Sendo assim, a HMG será igual à HML (06:10). A longitude 0º encontra-se no fuso ZERO, então nossa Hora legal do nascer do Sol também é igual a 06:10.
Mas, se estivéssemos na longitude 037º W e na mesma latitude de 10º S?
Nesse caso, para calcularmos a HMG iremos converter a longitude em tempo. Nas páginas amarelas no final do Almanaque náutico temos a tabela de CONVERSÃO DE ARCO EM TEMPO, o que facilita bastante para não termos que converter mentalmente. Se quiser converter mentalmente, é só lembrar que 15º corresponde a uma hora, 1º corresponde a 4 minutos. Então, teremos que 37º correspondem a 2h28m.
Muito bem, se estamos na longitude oeste, iremos somar a HML (06h10m) à longitude em tempo (2h28m) e teremos a HMG = 08h38m. Essa localização teoricamente pertence ao fuso 2, mas como está em território brasileiro (próximo a Aracaju) o fuso oficial é o 3. Então, nossa Hora legal para o nascer do Sol nessa localização será igual a 05h38m.

Caro comandante Wilson, espero que tenha gostado do post.

BONS VENTOS!




quinta-feira, 29 de maio de 2014

COMO USAR O ALMANAQUE NÁUTICO - parte 2

No primeiro texto que escrevi sobre o uso do Almanaque Náutico (CLIQUE AQUI) exemplifiquei a seguinte situação: Supondo que o navegante observe o Sol com o sextante às 13:00 (HMG) no dia 04/05/2014, qual seria o AHG (ângulo horário em Greenwich) e a declinação do Sol? O resultado é fácil de ser encontrado, pois o Almanaque náutico traz os dados de AHG e declinação do Sol para as horas inteiras. Basta abrirmos o Almanaque náutico Brasileiro na pág 95 e teremos o valor do AHG = 15º48.4', e a declinação = N 16º02.1'. Esses dados estão na coluna do SOL para o horário de 13:00 (HMG).
Então, vamos ver como seria se a observação fosse feita às 13:10 (HMG). Quais seriam as coordenadas horárias do SOL?
Primeiro, para determinarmos o AHG para 13:10, deveremos calcular o acréscimo para o AHG em função dos 10 minutos a mais no horário da observação. Abriremos o Almanaque nas páginas de acréscimos e correções (páginas amarelas), e na tabela dos 10 m teremos para o SOL o acréscimo de 2º30'. Assim, o AHG para 13:10 será igual a 18º18.4'.
Para a declinação, o passo a passo é diferente. Devemos primeiramente observar se a declinação está aumentando ou diminuindo. Para isto, basta comparar com a hora inteira anterior e a posterior. Voltando na pág 95 do Almanaque, observa-se que a declinação está aumentando, então haverá também um acréscimo para a declinação no horário das 13:10. Para calcularmos esse acréscimo, devemos ir no final da coluna do Sol no fim da página e veremos um d = 0.7. Esse ainda não é o valor do acréscimo. Com esse valor, vamos lá nas páginas de acréscimos, na tabela dos 10 m e teremos uma coluna com os dados v ou d e a correção a ser aplicada. Entremos nessa coluna com o valor 0.7 e obteremos o valor de correção = 0.1', e acrescentaremos esse valor de 0.1' ao valor da declinação, que será então igual a N 16º02.02'

Baixe aqui o Almanaque Náutico e siga o passo a passo do exercício acima:
http://www.mar.mil.br/dhn/chm/publicacao/almanaque/Almanaque-completo.pdf 

BONS VENTOS!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

DE CAYMMI A JORGE AMADO - HOMENAGEM AOS 100 ANOS DE CAYMMI



Jorge Amado contou e Caymmi cantou a Bahia e seus encantos, seu Mar, seu povo, a beleza da mulher baiana e seu gingado. E viveram intensamente cada um com sua Arte, nos deixando um arsenal de versos, canções, histórias escritas e cantadas que nos transportam para a vida cotidiana dos nobres pescadores, dos jangadeiros senhores do Mar, filhos de Iemanjá, como já diziam os mestres Caymmi e Jorge Amado.
Caymmi faria 100 anos agora no fim de Abril. Assisti uma homenagem belíssima ao seu centenário com interpretações de Milton Nascimento, Danilo Caymmi e Paulo Jobim, e fiquei atônito em frente à TV, vislumbrado com tanta genialidade. As músicas de Caymmi embalam meus sonhos desde a meninice, pois meu Pai sempre foi seu fã e colocava suas músicas para ouvirmos.
E agora me deparei com essa carta de Caymmi a Jorge Amado que o Nelson publicou no DIÁRIO DO AVOANTE. Eu desconhecia essa carta. E fiquei mais uma vez paralisado diante do gênio Caymmi:
  
“Jorge meu irmão, são onze e trinta da manhã e terminei de compor uma linda canção para Yemanjá, pois o reflexo do sol desenha seu manto em nosso mar, aqui na Pedra da Sereia. Quantas canções compus para Janaína, nem eu mesmo sei, é minha mãe, dela nasci. Talvez Stela saiba, ela sabe tudo, que mulher, duas iguais não existem, que foi que eu fiz de bom para merecê-la? Ela te manda um beijo, outro para Zélia e eu morro de saudade de vocês. Quando vierem, me tragam um pano africano para eu fazer uma túnica e ficar irresistível. Ontem saí com Carybé, fomos buscar Camafeu na Rampa do Mercado, andamos por aí trocando pernas, sentindo os cheiros, tantos, um perfume de vida ao sol, vendo as cores, só de azuis contamos mais de quinze e havia um ocre na parede de uma casa, nem te digo. Então ao voltar, pintei um quadro, tão bonito, irmão, de causar inveja a Graciano. De inveja, Carybé quase morreu e Jenner, imagine!, se fartou de elogiar, te juro. Um quadro simples: uma baiana, o tabuleiro com abarás e acarajés e gente em volta.
Se eu tivesse tempo, ia ser pintor, ganhava uma fortuna. O que me falta é tempo para pintar, compor vou compondo devagar e sempre, tu sabes como é, música com pressa é aquela droga que tem às pampas sobrando por aí. O tempo que tenho mal chega para viver: visitar Dona Menininha, saudar Xangô, conversar com Mirabeau, me aconselhar com Celestino sobre como
investir o dinheiro que não tenho e nunca terei, graças a Deus, ouvir Carybé mentir, andar nas ruas, olhar o mar, não fazer nada e tantas outras obrigações que me ocupam o dia inteiro. Cadê tempo pra pintar?
Quero te dizer uma coisa que já te disse uma vez, há mais de vinte anos quando te deu de viver na Europa e nunca mais voltavas: a Bahia está viva, ainda lá, cada dia mais bonita, o firmamento azul, esse mar tão verde e o povaréu. Por falar nisso, Stela de Oxóssi é a nova iyalorixá do Axé e, na festa da consagração, ikedes e iaôs, todos na roça perguntavam onde anda Obá Arolu que não veio ver sua irmã subir ao trono de rainha?
Pois ontem, às quatro da tarde, um pouco mais ou menos, saí com Carybé e Camafeu a te procurar e não te encontrando, indagamos: que faz ele que não está aqui se aqui é seu lugar? A lua de Londres, já dizia um poeta lusitano que li numa antologia de meu tempo de menino, é merencória. A daqui é aquela lua. Por que foi ele para a Inglaterra? Não é inglês, nem nada, que faz em Londres? Um bom filho-da-puta é o que ele é, nosso irmãozinho.
Sabes que vendi a casa da Pedra da Sereia? Pois vendi. Fizeram um edifício medonho bem em cima dela e anunciaram nos jornais: venha ser vizinho de Dorival Caymmi. Então fiquei retado e vendi a casa, comprei um apartamento na Pituba, vou ser vizinho de James e de João Ubaldo,
daquelas duas ‘línguas viperinas, veja que irresponsabilidade a minha.
Mas hoje, antes de me mudar, fiz essa canção para Yemanjá que fala em peixe e em vento, em saveiro e no mestre do saveiro, no mar da Bahia. Nunca soube falar de outras coisas. Dessas e de mulher. Dora, Marina, Adalgisa, Anália, Rosa morena, como vais morena Rosa, quantas outras e todas, como sabes, são a minha Stela com quem um dia me casei te tendo de padrinho. A bênção, meu padrinho, Oxóssi te proteja nessas inglaterras, um beijo para Zélia, não esqueçam de trazer meu pano africano, volte logo, tua casa é aqui e eu sou teu irmão Caymmi”.


domingo, 4 de maio de 2014

COMO USAR O ALMANAQUE NÁUTICO NA NAVEGAÇÃO ASTRONÔMICA - parte 1



A Marinha edita todo ano o Almanaque Náutico para trazer diversas informações aos navegantes. Mas, a principal finalidade do Almanaque Náutico é fornecer os dados astronômicos que servirão para diversos cálculos referentes à Navegação pelos Astros.
Na Navegação Astronômica é fundamental que tenhamos as informações necessárias para a correção das alturas dos astros após medirmos a altura com o sextante, que é apenas a altura obtida pelo instrumento, sem levar em conta a refração atmosférica, a paralaxe e outros fatores. Essas correções são obtidas através das tábuas contidas no Almanaque. Além disso, o Almanaque nos traz os dados necessários para calcularmos as coordenadas horárias dos Astros, que nos indicam a posição do Astro na Esfera Celeste, onde podemos imaginar no instante da observação como sendo um Ponto Geográfico do Astro, o que nos permite fazer um paralelo com nossas coordenadas geográficas. Então, se no instante em que observamos um Astro, conseguirmos calcular qual o seu ângulo em relação ao meridiano de Greenwich (AHG), estaremos determinando sua longitude; e se conseguirmos calcular qual a sua declinação em relação ao Equador, estaremos determinando sua latitude. O Almanaque Náutico nos traz essas informações das Efemérides para que possamos calcular as para o instante da observação.
É importante lembrar que os dados do Almanaque Náutico têm como referência a Hora Média de Greenwich (HMG), então, temos que sempre converter nossa hora legal em HMG.

Vamos a um exemplo prático para cálculo das coordenadas horárias do Sol:

Supondo que o navegante observe o Sol com o sextante às 13:00 (HMG) no dia 04/05/2014, qual seria o AHG (ângulo horário em Greenwich) e a declinação do Sol?
Nesse caso, seria muito simples, pois as informações já estão tabuladas para as horas inteiras. Então, se abrirmos o Almanaque na página diária do dia 04/05/2014 teremos o AHG e a declinação do Sol disponibilizadas ao lado da coluna da HMG.

Mas, se o Sol estivesse encoberto e o navegante só conseguisse observá-lo às 13:10 (HMG)?

Muito bem, aí teremos que fazer uns cálculos. Continuarei no próximo texto.

Conheça minha seção SEXTANTE - NAVEGANDO PELAS ESTRELAS  no site RUMO MAGNÉTICO.

BONS VENTOS!