quarta-feira, 26 de novembro de 2014

NAVEGAÇÃO INFORMATIZADA - PARTE 1

Na travessia de Salvador/Recife a bordo do Tranquilidade, fiquei impressionado com a organização e planejamento das rotas traçadas pelo amigo Cmte Wilson Chinali, e pedi para que ele fizesse uma colaboração para este blog. Daí ele acabou escrevendo um riquíssimo texto sobre a utilização da informática para planejamento da navegação.
Wilson Chinali, Capitão Amador, com muitas milhas navegadas pela costa do Brasil.

NAVEGAÇÃO INFORMATIZADA
Wilson Chinali


ECDIS vs ECS

INTRODUÇÃO:

Recentemente, conversando com o comandante Elson (Cmt Mucuripe) numa velejada maravilhosa, amigo, capitão amador, meu mestre em matéria de navegação astronômica, surgiu a ideia de apresentar um artigo sobre navegação informatizada, abordando especificamente um aplicativo gratuito para computadores que funcionasse com o Windows e outros sistemas de tablets e celulares.
O objetivo principal era utilizar o computador, dessa forma ele passaria a ser uma ferramenta poderosa no planejamento de derrotas e um ploter durante a execução das mesmas, com a vantagem de sempre utilizar as cartas raster oficiais da Marinha do Brasil e toda a facilidade do uso de um computador, com teclado, mouse e outros recursos.
Assim todo o trabalho de planejamento é feito no computador com amplas vantagens sobre o método tradicional -utilizando cartas de papel-, ou diretamente no aparelho GPS, com sua tela pequena e controles complexos de operar, se comparados ao computador.
Utilizarei o termo Navegação Informatizada (NI) e não navegação eletrônica para não confundirmos com equipamentos eletrônicos em geral.

OBJETIVO:

Apresentar um aplicativo para planejamento e acompanhamento informatizado de navegação, gratuito, que atenda as necessidades e com enfoque especial à navegação amadora.

DESENVOLVIMENTO:

1 – Dotação das cartas oficiais de papel a bordo.

ECDIS
ECS

2 – Computadores, tablets, iphones, smathphones,... vs aparelhos GPS tradicionais.

3 – Cartas raster vs cartas eletrônicas.

4 – Planejamento e acompanhamento da navegação através do computador.

5 – OPEN CPN 3.2.2

Onde baixar

Como baixar

6 – Cartas Raster

Baixar

Salvar

Adicionar

Aplicar

7 – Traçar derrotas, lançar way points, mob e posição da embarcação.

8 – Exportar e importar wp, rotas e trilhas (tracks) do computador para o GPS e vice-versa.

9 – Miscelânea

10 - Conclusão

1 – Dotação das cartas oficiais de papel à bordo.

TODA EMBARCAÇÃO É OBRIGADA A TER A BORDO AS CARTAS DE PAPEL NECESSÁRIAS AO ACOMPANHAMENTO DE SUA DERROTA.
ALGUMAS EMBARCAÇÕES PODEM REALIZAR A NAVEGAÇÃO UTILIZANDO APENAS A NAVEGAÇÃO EM CARTAS ELETRÔNICAS OU RASTER (mesmo essas devem ter a bordo as cartas de papel).

De acordo com a Organização Hidrográfica Internacional, “um sistema de apresentação de cartas digitais é um termo geral usado para denominar qualquer equipamento eletrônico capaz de mostrar a posição de uma embarcação sobreposta a uma imagem geo referenciada visualizável numa tela de computador”. Há duas classes de sistemas eletrônicos de apresentação de cartas;

ECDIS: Sistema Eletrônico de Apresentação de Cartas e Informações (ECDIS) que atende às exigências de dotação de carta náutica a bordo de acordo com a IMO/SOLAS2.

ECS: Sistema de Cartas Eletrônicas (ECS), que pode ser utilizado para auxiliar a navegação, mas que não atende às exigências de dotação de carta náutica a bordo de acordo com a IMO/SOLAS.

Para os objetivos desse artigo consideraremos todas as embarcações amadoras como portadoras de equipamentos ECS. Maiores informações sobre ECDIS e ECS podem ser encontradas no link https://www.mar.mil.br/dhn/chm/cartas/download/S66.pdf .


2 – Computadores, tablets, iphones, smarthphones,...  vs aparelhos GPS tradicionais.

De um lado temos aparelhos de informática gerais que devidamente preparados podem servir como equipamentos de navegação, tanto na fase de planejamento quanto de execução, nessa categoria temos os computadores, tablets, iphones e outros que certamente aparecerão no mercado.
De outro lado temos aparelhos desenvolvidos especificamente para navegação, são esses os denominados aparelhos GPS.
Os equipamentos gerais de informática estão sendo cada vez mais introduzidos na navegação, porém são equipamentos pouco resistentes à umidade, calor, deixam a desejar quanto a sua rusticidade. Os equipamentos específicos para navegação possuem a vantagem de serem mais rústicos, suportando situações comuns de mar como ondas, borrifos, chuva, sol, etc...

Assim, na fase de execução da derrota, sou de opinião particular, que os GPS(s) são melhores e mais adequados do que os aparelhos gerais, inclusive os computadores. O mesmo já não ocorre na fase de planejamento e de plotagem (na execução da derrota).
Por isso o enfoque desse artigo será especificamente o planejamento da derrota no computador e uma eventual plotagem na execução da derrota, e não o acompanhamento como se um ploter fosse, deixando essa função de ploter para os GPS(s) propriamente ditos.

  
3 – Cartas raster vs cartas eletrônicas.

Cartas Náuticas Raster (RNC) do Inglês “Raster Navigational Chart”.
São disponibilizadas gratuitamente no Brasil, portanto serão objeto de trabalho desse artigo.
As RNC são um fac-símile de uma carta náutica oficial impressa em papel; ou seja, uma cópia escaneada da carta de papel originária e georeferenciada. Produzidas de acordo com padrões internacionais estabelecidos pela OHI, são cartas oficiais e podem ser utilizadas em ECDIS.
Podem ser utilizadas também em equipamentos ECS.
Cartas Náuticas Eletrônicas (ENC) vem do termo inglês “Electronic Navigational Chart”.
Não são disponibilizadas gratuitamente no Brasil, portanto não serão objeto desse artigo, embora possam ser utilizadas nos ECDIS como nos ECS.
As informações contidas nas cartas vetoriais são organizadas em camadas, permitindo seleção, análise e apresentação de elementos de forma personalizada ou automática, havendo interação da embarcação com cada um de seus elementos.
 O conteúdo das ENC é baseado em fonte de dados de levantamentos realizados por serviços hidrográficos ou nos dados constantes em cartas oficiais impressas em papel; compiladas e codificadas em conformidade com padrões internacionais estabelecidos pela OHI; as posições nas ENC referem-se ao Datum do Sistema Geodésico Mundial 1984 (WGS84). Estas são compatíveis com as posições do GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite); são editadas somente por um Serviço Hidrográfico autorizado pelo Governo ou outras instituições governamentais pertinentes; e são regularmente atualizadas com informações oficiais que são normalmente distribuídas em forma digital.

4 – Planejamento da navegação através do computador.

O conhecimento de navegação é fundamental no planejamento informatizado da derrota, pois a ideia mestra é a mesma do método tradicional (carta de papel).
A facilidade e a agilidade que se tem no método informatizado é que difere em muito do método tradicional, bem como o custo, uma vez que o aplicativo é gratuito e as cartas raster também são distribuídas gratuitamente pela MB e de outros países como a Argentina por exemplo.
É possível traçar linhas, lançar way points (wp), salvar as derrotas e wp em arquivos digitais gpx, enviar por e-mail, enviar para o GPS, manter em pendrives, ao trocar de computador pode-se copiar os trabalhos realizados anteriormente, todos os traçados podem ser apagados sem deixar vestígios como acontece nas cartas de papel, os cálculos de rumo, distancia, ETD/ETA/ETE são automáticos, permite o uso de plug-ins para previsão de tempo e clima, oceanografia, visualização de imagens de satélites, tudo isso sobreposto á carta náutica, captura de tela, impressão...
Para os mais antigos (como eu), diria que o planejamento tradicional está para o planejamento informatizado, assim como as antigas máquinas de datilografia estão para os modernos computadores.
No acompanhamento da derrota seu uso fica restrito, em minha opinião, mas o replanejamento concorrente da derrota é muito eficiente com o uso da NI. Vou dar um exemplo prático disso:

Digamos que o navegador saia com seu veleiro de João Pessoa-PB para Recife-PE e precise fazer o Rumo Verdadeiro 165° à partir da boia n°1, seu veleiro orça com mais de 050° relativos. Essa situação exigiria um vento de 115° ou menos, mas o vento está nos 125°. Se o velejador seguir direto para Recife-PE precisará motorar por 90 M, porém se ele der um bordo de algumas horas, poderá velejar até Recife quando atingir uma posição específica. Nessa situação de replanejamento concorrente da derrota, a NI será de fundamental importância e de alta eficiência para se evitar desperdício de tempo e dinheiro, bem como desgaste dos motores. No exemplo dado o navegador precisaria motorar por 1h até atingir a longitude necessária para velejar o restante da travessia, caso contrario, se fosse direto para Recife, motoraria por aproximadamente 20h considerando a velocidade média de 5Kt, imagine isso ao longo de anos de uso do motor, quanto se preservaria o equipamento e economizaria de combustível! 
continua...
foto do http://opencpn.org/ocpn/