segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

E POR FALAR EM JANGADA

Registro aqui dois belos sonetos que meu irmão Otoniel me enviou. Fazem parte de seu trabalho sobre o litoral cearense, intitulado "Viagem Pitoresca pelo Litoral Cearense". Trata-se de um livro de sua autoria ilustrado com fotografias de seus quadros retratando o litoral do Ceará, poemas de poetas cearenses e fotografias das praias por onde sua expedição passou. SAIBA MAIS...

A morte do jangadeiro

Ao sopro do terral abrindo a vela,
Na esteira azul das águas arrastada,
Segue veloz a intrépida jangada
Entre os uivos do mar que se encapela.

Prudente, o jangadeiro se acautela
Contra os mil acidentes da jornada;
Fazem-lhe, entanto, guerra encarniçada
O vento, a chuva, os raios, a procela.

Súbito, um raio o prostra e, furioso,
Da jangada o despeja na água escura;
E, em brancos véus de espuma, o desditoso.

Envolve e traga a onda intumescida,
Dando-lhe, assim, mortalha e sepultura
O mesmo mar que o pão lhe dera em vida.

                                   Padre Antonio Tomás


SONETO À BEIRA-MAR

Aqui, diante do mar, velho destino,
Deitado em branca rede, ao longe vejo
Jangadas sobre as águas, em cortejo
No triste olhar tão vago e pequenino.

Ser um homem do mar - eis o que almejo
E nisso penso desde que, menino,
Ousei no sonho entrar qual peregrino
Que mescla as esperanças e o desejo.

Mas não pude ser nunca o que sonhei,
Em vãs infantarias conservei
Meu coração marujo e aventureiro.

Agora, à beira-mar, vendo as jangadas,
Sinto que errei meu rumo. E são salgadas
As esperas e a dor de um marinheiro.

                                      Artur Benevides
 



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